segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Escritor Fantasma

Há certo senso de estilo e elegância em diretores como Roman Polanski que, infelizmente, a maioria dos diretores modernos nunca irá alcançar. Como todo bom realizador, Polanski sabe que um suspense não é construído apenas de sustos e reviravoltas, mas de uma história e atmosfera bem trabalhadas, e de sólidos personagens que a protagonizam. Portanto não é surpresa nenhuma descobrir que ''O Escritor Fantasma'', filme mais recente do cineasta, é uma delícia.

Adaptando o romance de Robert Harris, temos aqui a história de um escritor fantasma, interpretado por Ewan McGregor (seu nome nunca é revelado), contratado para escrever a biografia do ex-primeiro ministro britânico, Adam Lang (Pierce Brosnan, em boa atuação), que está sendo acusado de crimes de guerra. Ele é obrigado a trabalhar numa cidade deserta (o próprio protagonista observa, em tom irônico, como a cidade ganha vida à noite) e completamente isolado. Estranha coincidência com a história do cineasta, hoje em prisão domiciliar na Suiça. Obviamente as coisas não são o que parecem e logo o personagem de McGregor se encontra no meio de uma conspiração envolvendo a CIA e Lang.

Ajudado por uma estranha e desconfortante trilha de Alexandre Desplat (que em certos momentos lembra os trabalhos de Bernard Herrman) e uma fotografia mergulhada toda em tons cinzentos, que além de refletir o próprio tempo da ilha em que os personagens se encontram também criam uma atmosfera de suspense e tensão, Polanski trabalha a história com prazer, sabendo sempre exatamente aonde posicionar a camera (acho sensacional a cena em que McGregor caminha na praia com Olivia Willians, com um guarda-costas perfeitamente posicionado no meio dos dois), quando trazer certos detalhes à tona, enfim, o homem sabe filmar.

O roteiro, escrito pelo próprio Harris e por Polanski, aposta muito na boa vontade do espectador. Ou alguém que se vê numa conspiração internacional sai contando tudo o que sabe para todas as pessoas que mal conhece? E por que sumir com o personagem do agente do escritor por tanto tempo? Não era ele que se importava tanto com seu cliente? Detalhes menores num filme tão bem realizado como esse. O cinema ainda precisa muito de pessoas como Polanski; imagino poucos diretores que conseguiriam contar uma história tão surrada como esta com tamanha vitalidade e frescor.



O Escritor Fantasma (The Ghost Writer)
Cotação: Ótimo

Nenhum comentário: