domingo, 5 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe

É tudo culpa do Matthew Vaughn. Tudo mesmo. Esse inglês, que chamou a atenção da indústria produzindo filmes do Guy Ritchie e, depois, dirigindo ‘’Nada é O Que Parece’’, com Daniel Craig, estava de contrato assinado com a Fox para dirigir ‘’X-Men 3’’. Assustado com o tamanho da produção, acabou recuando e foi realizar o ok ‘’Stardust’’ e o divertido ‘’Kick-Ass’’. Nesse meio tempo, tivemos o fraco ‘’X-Men: A Batalha Final’’, que acabou sendo dirigido por Brett Ratner, e ‘’X-Men Origens: Wolverine’’, que nem vale a pena comentar. Convocado de volta à cadeira de diretor, Vaughn não decepcionou, e este ‘’X-Men: Primeira Classe’’ é a melhor coisa da Marvel no cinema desde ‘’Homem-Aranha 2’’. Sim, o filme é bom mesmo.

Vemos aqui a juventudade de Charles Xavier (James McAvoy), o futuro Professor X, e de Erik Leshnerr (Michael Fassbender), o futuro Magneto. Como ele se conheceram, tornaram-se amigos, lutaram contra um vilão em comum (interpretado por Kevin Bacon), e viraram inimigos.

Vaughn comanda o filme com uma vitalidade incrível. Desde a sensacional abertura (que recria cena-por-cena aquela que abria o primeiro filme da série) nos campos de concentração nazista, até a utilização de fatos históricos para dar mais contexto à narrativa (a guerra fria e a crise dos mísseis em Cuba), o filme capta muito bem o espírito das histórias em quadrinhos, e consegue dar novo sentido aos dois primeiros filmes (felizmente, parece que ‘’X-Men 3’’ e ‘’Wolverine’’ foram sabiamente descartados da cronologia dos filmes), já que a relação entre Xavier e Erik é bastante parecida com aquela entre o próprio Xavier e Wolverine. Tanto Magneto quanto o mutante das garras de adamantium são pessoas psicologicamente (e fisicamente também, claro) torturadas, com questões mal-resolvidas em seu passado.

Mas vamos dar crédito também a quem merece: McAvoy e Fassbender possuem química sensacional, tornando muito mais verossímil a relação entre os dois personagens (e a ótima cena que envolve os dois e uma antena é um excelente exemplo disso). Acho que Fassbender é quem vai sair com a preferência do público (afinal de contas, todo mundo adora um anti-herói), mas McAvoy realiza um trabalho tão bom quanto. Vaughn e sua roteirista Janet Goldman foram muito felizes em tratar Xavier não apenas como um intelectual pedante, mas como um jovem, um pouco convencido demais até, mostrando que ele também gostava de beber, se divertir e ir atrás de mulheres. Assim sendo, não é apenas Erik que muda ao conhecer Xavier, este também começa a enxergar o mundo de maneira diferente depois de toda a experiência que passa com o amigo mutante. E sua relação com a jovem Mística (aqui interpretada por Jennifer Lawrence, ótima no papel) é também muito interessante. E é justamente numa cena entre esses três que as dualidades dos personagens ficam bem expostas: enquanto Magneto diz que um tigre não deveria se cobrir, Xavier pergunta para a mutante aonde estão suas roupas.

O diretor disse que se inspirou muito nos primeiros filmes de James Bond, e isso fica muito claro na tela. Sebastian Shaw, o vilão interpretado por Kevin Bacon, parece ter saído direto de um filme do agente secreto. Seja pelo estilo (de fala suave, mas ameaçadora) até seu esconderijo (um submarino!), Shaw é um vilão tipicamente Bondiano. E Bacon parece se divertir com o papel como a muito tempo não se via. Seu vilão é genuinamente assustador, mas extremamente sedutor e cool. Seu capangas (apesar do tempo limitado em tela) são bem empregados a narrativa (como por exemplo Azazel, que possui a habilidade de se teletransportar, é vermelho e de naturalidade russa, encaixando-se muito bem no clima do filme).

À destacar também o trabalho do diretor de fotografia John Mathieson. Colaborador habitual de Ridley Scott, Mathieson sabe muito bem como posicionar a câmera, de modo que cenas como a do banco (com o reflexo do rosto dos personagens na barra de ouro), a transformação de Hank McCoy (Nicholas Hoult) em Fera (toda em primeira pessoa) ou do confronto no bar argentino (que, com a ajuda da trilha sonora e do roteiro, ganha contornos de duelo de faroeste) se tornam muito mais emocionantes. E eu adorei pequenos detalhes, como quando Xavier tenta ler a mente de Emma Frost (January Jones) e de repente a imagem se quebra, como se fosse um espelho, ou a cena em que a agente da CIA Moira (Rose Byrne) está em Las Vegas e o reflexo dos letreiros bate no vidro do carro. Aliás, falando em trilha sonora, o trabalho de Henry Jackman é muito bom, criando um tema interessante para Magneto, que oscila em intesidade de acordo com as cenas.

Existem, é claro, alguns problemas. Torna-se muito nítido que o tempo que Vaughn teve para finalizar o filme foi curto (para se ter uma noção o diretor foi contratado em maio do ano passado e com data de lançamento já marcada para 03/06/11), então vemos alguns efeitos mal finalizados, a maquiagem do Fera não funciona (principalmente quando este resolve falar) e por que colocar o mutante Darwin no filme? Ele é Totalmente mal utilizado.

Mas estes são problemas menores, e ‘’X-Men: Primeira Classe’’ serve muito bem tanto como entretenimento quanto para reintroduzir os mutantes de volta à tela grande. Aguardo ansiosamente a sequência.

X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class)
Cotação: Ótimo