quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Séries: Breaking Bad

Essa nova maneira de pensar TV nos EUA (com idéias mais originais e ousadas, atores e diretores talentosos e com certa ‘experiência) vem rendendo bons frutos, e acredito que um dos que mais tem me chamado atenção ultimamente é esta série ‘’Breaking Bad’’. Produzida pela rede AMC (a mesma de ‘’Mad Man’’ e da futura ‘’The Walking Dead’’) e criada por Vince Gilligan (produtor de ‘’Arquivo-X’’), a série representa o que melhor está sendo feito pelas emissoras americanas em termos de roteiro, direção e atuação.

Acredito que existam muitas pessoas que gosta de ‘’Família Soprano’’ e que entendam que ela talvez tenha definido um padrão de qualidade em termos de séries que nenhuma outra que veio depois conseguiu ultrapassar, mas acredito que ‘’Breaking Bad’’ é algo que possa fazer isso. Já se passaram 3 temporadas (o criador Gilligan disse que quer fazer apenas mais uma) e nenhuma parece ser pior do que a outra. Todas as temporadas manteram o pique, com alguns episódios que com certeza podem rivalizar em termos de qualidade com os melhores da série de Tony Soprano.


E não apenas por ser ousada, mas também por que não é difícil se imaginar na situação em que Walter White se encontra. Ele é o típico homem de família, tem um potencial enorme mas está preso num emprego ruim numa escola no Novo México e então descobre que está com cancer no pulmão e lhe resta pouco tempo de vida. Decide então produzir metanfetamina com a ajuda de um ex-aluno seu, Jesse.

Ajuda o fato de que White é interpretado por Bryan Cranston, que viveu durante 6 anos o pai de Frankie Muniz em ‘’Malcolm in the Middle; Cranston é um ator talentossíssimo, que consegue expressar muito por um olhar ou uma mudança na postura (não atoa o ator ganhou o Emmy por atuação 3 anos seguidos). Ele tem boa química com Aaron Paul, aquele ator que você sabe que conhece de algum lugar, e a relação dos dois cresce bastante ao longo das três temporadas (o que é sempre bom de se ver, já que indica que os roteiristas estão preocupados em desenvolver não apenas a história mas também seus personagens).

Me chama a atenção também o cuidado com que toda a série é produzida. A trilha sonora é sempre inusitada, contando até com um episódio aberto por um trio mexicano com uma música* que recaptula acontecimentos anteriores. E a direção de fotografia (acredito que a maioria dos episódios foi fotograda por um sujeito chamado Michael Slovis) é bastante inspirada (escolhi alguns caps da terceira temporada que achei interessantes para ilustrar esse exemplo e que estão espalhados pelo texto).

A primeira temporada me lembrou algo que os Irmãos Coen talvez tivessem imaginado mas, com o passar das temporadas e do tom cada vez mais pesado, não me surpreenderia se alguem como Abel Ferrara (cineasta de quem gosto muito, acho bom dizer) viesse a comandar um episódio. E eu acho que isso diz bastante sobre a qualidade desse soberbo trabalho da AMC.


Breaking Bad

Cotação: Excelente

A série é exibida pelo canal pago AXN toda terça às 21;00 hrs

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Predadores

''Predadores'', filme que reinicia a franquia do alien caçador nas telonas não perde tempo em jogar o espectador no meio da ação. Logo de cara já vemos o personagem de Adrien Brody sendo jogado no meio da selva, e depois outros se juntam a ele na tentativa de descobrir aonde estão e o que eles estão fazendo ali. Descobre-se que estão no planeta dos Predadores e que fazem parte de uma caçada humana.

O filme tem essa difícil missão que é a de apagar do público que abominações como ''Alien Vs. Predador'' (e sua sequência) existiram e reiniciar a franquia do Predador. O diretor Nimrod Antal, escolhido a dedo pelo produtor Robert Rodriguez (que também deu seus pitacos no roteiro), realiza um bom trabalho, principalmente se levarmos em conta que o orçamento foi de apenas US$40 milhões, muito abaixo do padrão de Hollywood para filmes desse tipo. E é justamente nessa contenção de recursos que o filme tem seu trunfo. Antal sabe trabalhar bem as cenas e elevar a tensão ao máximo possível. O filme ainda presta algumas homenagens ao primeiro filme da série, grande película de ação dos anos 80 dirigida por John McTiernam e estrelada por Arnold Schwarzenegger.

Ainda temos a boa surpresa de constatar que Brody, no início uma escolha curiosa para ser protagonista de um filme de ação desse tipo, segura muito bem a onda no papel. Arrisco dizer que é o melhor oponente que o Predador já teve desde o atual governador da Califórnia.

Obviamente não é um grande filme, e possui sua parcela de falhas (a falta de uma cena de ação realmente memorável sendo a maior delas), mas ''Predadores'' é divertido e tem sua quantidade generosa de sangue, tripas e frases de efeito. Os fãs da franquia não podiam pedir muito mais do que isso.

Predadores (Predators)
Cotação: Bom

sábado, 10 de julho de 2010

Ilha do Medo e Tudo Pode Dar Certo

É interessante notar que sem Martin Scorsese na direção, ''Ilha do Medo'' provavelmente passaria despercebido e não seria tão bom quanto é com o genial diretor no comando. O filme se segura muito bem na revisão (considerando seu grande twist no final) devido a maestria com que Scorsese conduz as cenas e, no final, o que acaba ficando na cabeça do espectador nem é a revelação final, e sim aquelas imagens maravilhosas fotografadas de maneira sensacional por Robert Richardson (apenas em sua quarta colaboração com o diretor).

Impressiona também o quanto Leonardo Di Caprio cresceu como ator sob a direção de Scorsese, e ele carrega o filme direitinho, sem nenhuma falha. O bom elenco coadjuvante também ajuda, com destaque para o carisma de Mark Ruffalo. Há de se louvar também a linda trilha sonora, que me lembrou um pouco aquelas que embalavam os filmes de Stanley Kubrick.

Enfim, um filmaço.

Já ''Tudo Pode Dar Certo'', volta do cineasta Woody Allen a Nova York depois de quase 5 anos filmando na Europa, é um pouco decepcionante. Parece que Allen aposta no fácil e óbvio para agradar a platéia, justamente quando sua carreira voltava a ser interessante pela ousadia que vinha apresentando em trabalhos como ''Match Point'' e ''O Sonho de Cassandra''. Não é de todo ruim (Larry David é a representação perfeita do diretor), mas parece muito abaixo do que poderia ter sido.


Ilha do Medo (Shutter Island)
Cotação: Ótimo

Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works)
Cotação: Bom

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Kick-Ass Quebrando Tudo

Ao assistirmo ''Kick Ass-Quebrando Tudo'', fica bem aparente o por que do diretor Matthew Vaughn ter tido de recorrer a fundos independentes para realizar a película. Carregado de violência e palavrão, o filme tem como maior destaque uma garotinha de 12 anos (interpretada pela ótima Chloe Moretz) que é uma verdadeira máquina de matar.

Mas o filme é muito mais do que isso, já que Vaughn (produtor de vários filmes de Guy Ritchie diretor dos eficientes ''Nem Tudo é o que Parece'' e ''Stardust-O Segredo da Estrela) é um cineasta extremamente talentoso e confiante, e isso tudo transparece muito na tela. O filme na verdade funciona como uma homenagem aos filmes de histórias em quadrinhos. Temos aqui basicamente quatro personagens principais: o protagonista Kick Ass; Hit Girl, a garotinha assassina citada acima; Big Daddy, o pai de Hit Girl e Red Mist, um jovem filho de um mafioso que também decide combater o crime. Vaughn presta homenagens às diferentes adaptações de HQ utilizando cada personagem: Kick Ass tem o universo com cores fortes, vive no subúrbio, é apaixonado por uma garota que não o corresponde, muito como o ''Homem-Aranha'' de Sam Raimi. Já o tema de Hit Girl parece saido do ''Watchmen'', de Zack Snyder, com muita câmera lenta e violência estilizada. Big Daddy parece uma atmosfera saída do ''Batman'' de Christopher Nolan e Red Mist parece que acabou de sair de ''Batman Eternamente'' e ''Batman e Robin'', de Joel Schumacher. É essa metalinguagem com as HQ's (o alter-ego de Kick Ass passa a maior parte de seu tempo numa loja de quadrinhos) que torna o filme tão interessante. É uma trama totalmente absurda, mas a confiança de Vaughn em seu material ajuda o filme a funcionar e divertir.

Kick Ass-Quebrando Tudo (Kick-Ass)
Cotação: Ótimo

sábado, 5 de junho de 2010

Príncipe da Persia: As Areias do Tempo

Depois do enorme sucesso da franquia ''Piratas do Caribe'', o próximo passo dado pelo midas Jerry Bruckheimer foi o de tentar adaptar a (divertida) série de video games ''Prince of Persia''. Todos os ingredientes para o sucesso estavam ali: diretor competente (Mike Newell), bom galã principal (Jake Gyllenhaall), efeitos especiais e muita ação. E nada deu certo.

Gyllenhaal parece perdido, os efeitos, em sua maioria, são fracos, apesar da função da adaga do tempo ter sido bem transposta para a tela, a direção de Newell é fraca e mal deixa o espectador tentar entender o filme, tamanho a quantidade de cortes empregada, além do abuso da câmera lenta. Salvam-se a beleza de Gemma Arterton e a excentricidade de Alfred Molina.

E pensar que eu já passei horas com o jogo...

Príncipe da Persia: As Areias do Tempo (Prince of Persia: The Sands of Time)
Cotação: fraco

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Escritor Fantasma

Há certo senso de estilo e elegância em diretores como Roman Polanski que, infelizmente, a maioria dos diretores modernos nunca irá alcançar. Como todo bom realizador, Polanski sabe que um suspense não é construído apenas de sustos e reviravoltas, mas de uma história e atmosfera bem trabalhadas, e de sólidos personagens que a protagonizam. Portanto não é surpresa nenhuma descobrir que ''O Escritor Fantasma'', filme mais recente do cineasta, é uma delícia.

Adaptando o romance de Robert Harris, temos aqui a história de um escritor fantasma, interpretado por Ewan McGregor (seu nome nunca é revelado), contratado para escrever a biografia do ex-primeiro ministro britânico, Adam Lang (Pierce Brosnan, em boa atuação), que está sendo acusado de crimes de guerra. Ele é obrigado a trabalhar numa cidade deserta (o próprio protagonista observa, em tom irônico, como a cidade ganha vida à noite) e completamente isolado. Estranha coincidência com a história do cineasta, hoje em prisão domiciliar na Suiça. Obviamente as coisas não são o que parecem e logo o personagem de McGregor se encontra no meio de uma conspiração envolvendo a CIA e Lang.

Ajudado por uma estranha e desconfortante trilha de Alexandre Desplat (que em certos momentos lembra os trabalhos de Bernard Herrman) e uma fotografia mergulhada toda em tons cinzentos, que além de refletir o próprio tempo da ilha em que os personagens se encontram também criam uma atmosfera de suspense e tensão, Polanski trabalha a história com prazer, sabendo sempre exatamente aonde posicionar a camera (acho sensacional a cena em que McGregor caminha na praia com Olivia Willians, com um guarda-costas perfeitamente posicionado no meio dos dois), quando trazer certos detalhes à tona, enfim, o homem sabe filmar.

O roteiro, escrito pelo próprio Harris e por Polanski, aposta muito na boa vontade do espectador. Ou alguém que se vê numa conspiração internacional sai contando tudo o que sabe para todas as pessoas que mal conhece? E por que sumir com o personagem do agente do escritor por tanto tempo? Não era ele que se importava tanto com seu cliente? Detalhes menores num filme tão bem realizado como esse. O cinema ainda precisa muito de pessoas como Polanski; imagino poucos diretores que conseguiriam contar uma história tão surrada como esta com tamanha vitalidade e frescor.



O Escritor Fantasma (The Ghost Writer)
Cotação: Ótimo

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Onde Vivem os Monstros



Vamos direto ao ponto: nunca o universo infantil foi tão bem retratado em película quanto em ‘’Onde Vivem Os Monstros’’. Toda aquela aventura de ser criança, de brincar com os amigos, imaginar mundos distantes e fantasiosos, ganhou uma adaptação à altura nas mãos do diretor Spike Jonze.

Baseado no cultuado livro infantil de mesmo nome, Jonze e o roteirista Dave Eggers tinham a difícil tarefa de adaptar (e expandir) um livro de apenas dez páginas sobre Max, um garoto que, ao desobedecer a sua mãe, acaba embarcando num mundo distante, possível apenas graças a sua fértil imaginação. Lá suas emoções ganham a forma de grandes monstros, cada um uma diferente parte de sua personalidade.

Jonze consegue capturar muito bem esse espírito infantil, começando com os diálogos de Max (a cena em que ele descreve seus poderes, por exemplo: ‘’Eu tenho o dobro do poder e nada no mundo pode ultrapassar ele’’), passando por suas aventuras (correndo atrás do cachorro, montando um iglu) até chegar a sua personalidade, que toma a forma dos tais monstros do título. São eles: Carol (seu lado impulsivo e raivoso), KW (o amor que ele nutre por sua mãe e irmã), Douglas (a razão), e assim por diante. E não são apenas os monstros que demonstram as emoções de Max. A própria ilha em que eles se encontram também reflete suas emoções. Quando todos estão brincando o cenário vira alegre e amarelado, e quando Max é deixado de lado pelos monstros, começa a nevar e a esfriar.

Utilizando de um design extremamente habilidoso, que mistura CGI e fantasias elaboradas pela equipe de Jim Henson, além de uma equipe talentosa de dubladores (James Gandolfini e Forest Whitaker entre eles), as criaturas são totalmente convincentes e ganham contornos de seus dubladores. Carol, dublada por Gandolfini, tem o nariz meio avermelhado, como se estivesse gripada e com a voz anasalada, já que Gandolfini tem uma voz anasalada.

É justamente esse tipo de cuidado com os pequenos detalhes que torna a experiência de se assistir um filme como ‘’Onde Vivem os Monstros’’ uma coisa tão prazerosa. E eu confesso que, quando o filme acabou e tive que me desligar daquele mundo, não pude deixar de me sentir triste e com saudades do tempo em que eu era criança. Bom trabalho, Sr. Jonze.

Onde Vivem os Monstros (Where the Wild Things Are)

Cotação: Ótimo