sábado, 14 de julho de 2007

Zodíaco

David Fincher cresceu na baía de São Francisco durante os anos 70. Presenciou as inúmeras ameaças feitas pelo serial killer conhecido como Zodíaco contra os habitantes da cidade e, assim como a maioria de seus habitantes, temeu por algum tipo de ameaça ou atentado.

O diretor Richard Fleischer filmou "O Homem que Odiava as Mulheres" em 1968 contando com interpretações fantásticas de Henry Fonda (como um investigador da polícia de Boston), Tony Curtis (como o estrangulador) e George Kennedy (interpretando um parceiro do personagem de Fonda). Fleischer realizou o filme cerca de 1 ano antes do misterioso Zodíaco começar sua "caçada" pelo "animal mais perigoso de todos" devido a grande repercussão que os assassinos na cidade Boston ocorridos em 62-64 geraram em todo os Estados Unidos.

Fincher pode até dizer que não, mas é quase inegável que tenha se inspirado no filme de Fleischer. Desde os policiais obcecados com o caso até o tom quase que documental com que a história é narrada, "Zodíaco" tem muitos elementos retirados do filme de 68. E, se você começar a perceber as simelhanças entre "Zodíaco" e outros filmes, achará também em "Todos os Homens do Presidente", "Perseguidor Implacável" e - por que não?- até mesmo no próprio "Seven".

Porém, essa não é uma comparação entre os dois filmes, e sim uma crítica sobre o filme de Fincher. "Zodíaco" começa com o assassinato de dois jovens num carro, Ela morre, ele não. Algumas semanas depois, uma carta é enviada a redação do San Francisco Chronicle em que seu redator confessa ter matado a jovem no carro, além de mais duas garotas no natal de 68. Junto com a carta, vem um código em que o assassino diz que quem decifra-lo irá descobrir sua real identidade.

"Zodíaco" é uma filme sobre a obsessão. Numa das cenas que eu considero chave para o entendimento filme, o personagem de Mark Ruffalo, o inspetor Dave Toschi está parado no seu carro, olhando para a rua, pensativo. Ele sai e vemos na mesma esquina o cartunista interpretado por Jake Gyllenhaal na mesma rua, na esquina. Seria uma simples cena, se logo depois a camêra de Fincher não revelasse que aquela esquina se trata de um dos locais em que o Zodíaco matou um taxista anos antes. Esses dois personagens (ao contrário do parceiro de Toschi, do repórter interpretado por Robert Downey Jr.) estão obcecados por alguém. Alguém que nunca viram, alguém que só se comunicou com eles através de cartas ameaçadoras. Um inimigo invisível, assim como a América pós-11/9 clama ser o terrorismo.

O filme também me parece ser o trabalho mais maduro de Fincher até então. Longe dos maneirismos, cortes rápidos e fotografia borrada que marcaram seus trabalhos anteriores (e não digo isso num sentido prejorativo), Fincher parece estar estranhamente mais calmo. Em partes, devemos dar o crédito a excelente fotografia de Harry Savides (que também realizou um excelente trabalho em "Elefante", de Gus Van Sant), que evoca tons mais antigos, quase que retrôs, numa tentativa acertada de lembrar a atmosfera dos policiais dos anos 60-70. Também do embalo da época está o compositor David Shire, num trabalho que lembra muito aquelas trilhas pré-John Willians: menos grandiosas, porém não menos efetivas. Não só a trilha incidental é muito boa, mas recomendo a vocês também procurarem a coletânia, que inclui nomes como Marvin Gaye ("Inner City Blues"), Jason Donavan ("Hurdy Gurdy Man") e Santana ("Soul Sacrifice").

Porém, acho que o melhor do filme é seu elenco. Vocês todos já devem ter ouvido falar dos excelentes trabalhos de Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., porém, acho que o maior nome no elenco é de Jake Gyllenhaal na pele do tímido e obessivo Robert Graysmith, autor do livro que deu origem ao filme. Desde, acredito, "Donnie Darko", não é surpresa elogiar o trabalho de Gyllenhaal. Ano passado foi indicado ao Oscar de coadjuvante por sua interpretação no belo "O Segredo de Brokeback Mountain", mas é aqui que o ator tem seu grande momento.

Não apenas Gyllenhaal tem seu grande momento, mas também acho que Fincher atingiu seu ápice aqui, realizando uma verdadeira obra-prima sobre a obsessão e sobre os limites do homem.

Zodíaco (Zodiac)
Cotação: Excelente

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